terça-feira, 18 de agosto de 2009

O VIRUS, A MÍDIA E O PANDEMÔNIO

Demerval Florêncio da Rocha

Cada um se vira como pode, bota máscara antes do carnaval, excomunga quem tosse ao lado, quem espirra e quem simplesmente funga. Partículas invisíveis da traquéia, gotículas microscópicas da garganta, um simples bafo menos que o da onça, tudo virou horrenda encarnação do maligno. Nunca o povo teve tanto medo de fantasma. Gostaria de não ser profundo demais nesta crônica sobre o dito germe, mas não posso me conter: os que têm medo de fantasma são os que têm dificuldade de lidar com o lado imaterial do ser humano. E, no caso, conhecer minha imaterialidade não é nada mais que ter uma noção razoável do quanto estou susceptível ou não de contrair e construir determinada mazela. A susceptibilidade mórbida, ou seja, a propensão a adoecer, é resultante da combinação das condições de meu corpo e do equilíbrio de minha mente, de minha espiritualidade. Esta combinação define o terreno fértil que sou para abrigar a saúde ou a doença. Louis Pasteur disse muito bem, ao final de sua vida de microbiologista famoso: “O germe não é nada; o terreno é tudo.” Um outro cientista, Rudolf Virchow, pai da patologia moderna, não deixou por menos, também em meados do século XIX: “Se pudesse viver minha vida outra vez, dedicar-me-ia a provar que os germes buscam seu habitat natural – o tecido doente – e não que sejam a causa do tecido doente.” Quanto a mim, mesmo sendo um pobre médico sem estrela alguma, tive a graça de entender ambas as declarações irretocáveis de dois grandes expoentes da biomedicina. Concordo com você, quer seja leigo ou profissional de saúde: não daria muito crédito a esses aforismos, se viessem da boca de um esotérico qualquer e muito menos de um caganeira como eu; ou que fosse da lavra de um exótico, apóstata, herege, excêntrio, tipo Paracelso. Não tenho nenhum preconceito contra esses tipos. Mas, aqui, para que me faça entender, faço de conta que estou do lado de leitores racionalistas, deterministas e cartesianos. A máscara se presta muito bem para isolar uns dos outros, para esfriar relacionamentos. O indivíduo isolado e frio torna-se menos crítico e engole a mídia mais facilmente e fica mais ávido pelo Tamiflu. Estarra-se na notícia das vítimas do maligno, que aumentou de x para x+y esta semana. E logo depois da notícia vem o comercial do refrigerante saudável de aspartame, do xampu que rejuvenece ou do celular que faz tudo. Engolimos a notícia e desejamos comprar tudo que vem depois da notícia. Quanto mais gente ligada no vírus, que a telinha transformou em pandemônio, mais incautos desejarão, a seguir, o paraíso que está no carro novo, no crédito fácil ou no celular que cura celulite. A grande mídia forma a grande média (pra não dizer outra coisa) e esta perpetua a grande mediocridade, ansiosa pela régia vacina que ficou pronta em tempo recorde, porque começou a ser preparada, sabe deus com que, antes mesmo do vírus existir, a menos que este tenha sido concebido em laboratório de algum crápula ou poderoso patife. Possivelmente coisa das bandas do Tio Sam. Um livro que li na década de 80 tem o título bastante verossímil – Os demônios vêm do Norte – seja para o mundo da ciência ou para a imundície de seitas que se propagam no hemisfério sul a deus dará. Vacina relâmpago, a peso de ouro, porque os óbitos subiram para x+y. Só este mês, coisas “banais” como desnutrição e diarréia liquidaram a trajetória de um número de crianças muito além de x+y na enésima potência. Esses entes quase imateriais, como os vírus, precisam também encontrar imaterialidade virulenta para se encostar, se acestar, se replicar e dar boas e horripilantes gargalhadas. Um dos atributos imateriais mais virulentos é exatamente o medo, a hipocondria, a ansiedade que vira angústia ou pânico. E quanto mais pânico melhor para a Roche, que fatura com o Tamiflu, vendido a peso de ouro e fabricado a preço de banana a partir de flores de anis, abundantes na China e na Malásia. Com uma pequena parte da enorme receita o laboratório patrocina viagens de alguns infectologistas vendidos para o mercantilismo. A indústria de máscaras deve estar fazendo a mesma coisa, por peso na consciência. E a máscara não cai, pelo menos enquanto houver influentes para amarrá-las por detrás das orelhas. É muito mais que uma simples máscara; tornou-se uma venda completa para os olhos. Mas, no final, quem tenta desvendá-los é que corre o risco de ficar mal visto, mesmo reverenciando (e referenciando) o grande Pasteur: você aí, se prestar mais atenção em teu terreno, não precisará se preocupar tanto com a bicharada ao teu redor.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

AMORA


Em alguns lugares costumavam dizer que a amora era boa para o coração e citavam a rima a quem gostava da fruta: “vou contar pro seu pai que você namora”. Hoje deparo com artigos científicos dizendo que o suco de amora ajuda a combater doenças do coração. É o popular prevendo o científico. Interessante.

Fruta silvestre de fácil adaptação que cresce em qualquer lugar e nasce espontaneamente. Algumas espécies são do tipo trepadeira e outras árvores espaçosas com seus galhos, se deixá-la livre atinge grande alturas que dificulta a “panha”, mas vira um belo jardim para os passarinhos. Uma fruta doce com pouca acidez, saborosa e medicinal.

Poderia não estar escrevendo sobre amora.

Releu? Pois é...